Não sei dançar. Mas gostava. Em
adolescente, na comunidade onde vivia, o bailarico era sábado sim, sábado sim.
Toda a gente rodopiava num frenesim de alegria e encanto. Mas eu não.
Desgostosamente assistia, porque cedo percebi que não seria capaz de envolver o
corpo na musicalidade que a dança obriga, restava-me, pois, ver dançar. E é o
que faço com gosto, ainda hoje. O tango é, para mim, a excelência da dança de
salão. As vestes e as posturas abrasivas de sexualidade, envoltas numa vaidade,
contagiam os demais. Sempre que posso vejo os festivais onde a dança é a razão.
Mais tarde vi (no cinema) o Rudolf Nureyev e fiquei rendido à magia da dança clássica.
A corporalidade em movimento sugerindo formas e sentimentos é de uma beleza
encantatória só ao alcance de alguns. Resta-me (naturalmente) fruir o bailado e
as danças dos outros.
Ainda num passado recente estive
num evento muito cerimonioso com graduados e colunáveis. Tudo funcionou dentro
do restrito espírito do protocolo até chegar o momento da dança. Depois foi só
vê-los na alegria expressiva que a libertinagem mágica do movimento rítmico
exige e... lá se foi todo o protocolo.
Porque me deixo encantar pela
dança, procuro pintar essa atmosfera de magia que a conjugação dos dançarinos
me cativa. As telas que hoje mostro foram pintadas em 2006 depois de ter
visitado o Caramulo e de ter estado num casamento.
E vos deixo com as palavras de
Saramago, in “Cadernos de Lanzarote”:
“Nenhum dia é festivo por ter
nascido assim: seria igualzinho aos outros se não fôssemos nós a «fazê-lo»
diferente.”
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