O meu pai era inventivo. Arranjava
e criava tudo que fosse elétrico e motorizado: ele era o esquentador; a bomba da água; a
torradeira; a mota; tudo, tudo. E eu, domingo sim, domingo sim, era obrigado a servir de ajudante. Detestava. Não gostava nada daquele rosário
mergulhado em fios, óleos, parafusos e afins. E admirava-o tanto. Sempre achei a
criatividade e o engenho como um fascinante mundo novo. E hoje, quando me
recordo dele, percebo bem a sua herança. Sempre detestei mexer no ferro, seus
derivados e associados mas, pelo contrário, tenho um gosto pela madeira. Não
sei se é pela textura, pelo cheiro, pela configuração, pela presença ambiental.
E me tornei fazedor de insignificâncias utilizando a madeira como material de
recurso. Para um pintor, um cavalete é um instrumento de trabalho: deve ser sólido e funcional e, por isso, construí, em tempos idos, alguns
para me servirem de acordo com os meus desejos pictóricos, de então. Agora,
estou diferente: tenho outra conceção do tempo, do trabalho e ... da
preguiça também. Comprei, recentemente, um
novo cavalete: mais moderno, mais ergonómico, mais perfeito. E me lembrei do
meu pai. Mais uma vez. Acontece tanto.
E vos deixo com as palavras de Cesare
Pavese, in “Il Mestiere di Vivere”:
“Chega uma época em que nos damos
conta de que tudo o que fazemos se transformará em lembrança um dia. É a
maturidade. Para alcança-la, é preciso já ter lembranças.”
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