“Namorico”, 2012
Pintura sobre tela,
100x100cm (em construção)
De miúdo recordo com saudade as
noites frias de inverno onde, em casa das minhas tias-avós, à roda da braseira,
ouvia as muitas histórias de encantar. Longe de mim a inveja e a soberba. Todo
aquele rosário de infindáveis episódios de vida era uma aprendizagem. Sem
maldade nos julgamentos opinativos ouvia extasiado novas diárias. Mal sabia eu
que ainda hoje me surpreendo com mirabolantes contos. Como tudo muda, nada
mudando…
E, das muitas histórias, o
namorico era assunto constante. De tanto ouvir contar ficou-me este modo de
representar picturalmente o lado afetivo. Outros tempos. Outros juízos de
valor. Outras sensibilidades. Enfim, o passado.
Hoje o que resta é a desvalorização
dos costumes. Tudo está tão diferente. É a roda da vida: a ciência evolui; as
causas e os valores mudam; e o amanhã depois se verá. Neste percurso de
memórias que o tempo leva, outros dirão de sua justiça, ou não fosse tudo tão
breve e insignificante, neste universo de muitos mundos, em que a recordação é
um espelho difuso de um tempo, e, até, a importância do «eu» é apenas um
conceito e nada mais. Tudo se esvai, mesmo as melhores imagens de infância.
E vos deixo com as palavras de George
Sand:
“A memória é o perfume da alma.”
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