domingo, 7 de outubro de 2012

Histórias por contar (II)

 
 
 
 
 
“Namorico”, 2012
Pintura sobre tela, 100x100cm (em construção)
 
 
De miúdo recordo com saudade as noites frias de inverno onde, em casa das minhas tias-avós, à roda da braseira, ouvia as muitas histórias de encantar. Longe de mim a inveja e a soberba. Todo aquele rosário de infindáveis episódios de vida era uma aprendizagem. Sem maldade nos julgamentos opinativos ouvia extasiado novas diárias. Mal sabia eu que ainda hoje me surpreendo com mirabolantes contos. Como tudo muda, nada mudando…
 
E, das muitas histórias, o namorico era assunto constante. De tanto ouvir contar ficou-me este modo de representar picturalmente o lado afetivo. Outros tempos. Outros juízos de valor. Outras sensibilidades. Enfim, o passado.
 
Hoje o que resta é a desvalorização dos costumes. Tudo está tão diferente. É a roda da vida: a ciência evolui; as causas e os valores mudam; e o amanhã depois se verá. Neste percurso de memórias que o tempo leva, outros dirão de sua justiça, ou não fosse tudo tão breve e insignificante, neste universo de muitos mundos, em que a recordação é um espelho difuso de um tempo, e, até, a importância do «eu» é apenas um conceito e nada mais. Tudo se esvai, mesmo as melhores imagens de infância.
 
 
E vos deixo com as palavras de George Sand:
 
“A memória é o perfume da alma.”
 


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