“Marta IV”, 2015
Desenho a grafite sobre
papel canson 59x42 cm
Vivo numa obsessão pictórica. Fora
do meu ateliê sinto-me perdido. Longe vão os tempos do querer isto ou aquilo,
projetar para o futuro, conceber ideais de felicidade e gostar de gostar. Agora
tudo parece diferente. Sou outro. Quanto mais trabalho mais quero fazer, mesmo
sabendo o destino previsível das peças que vou criando e, em simultâneo, ando
sempre impaciente com tudo e com todos. É este vazio que
o trabalho artístico compensa com tanta entrega, mesmo que tudo se desmorone. Se
eu soubesse como ultrapassar este confronto entre os valores, a moral e o
bem-estar era diferente, se a memória não fosse o que é. É pois este rol de
inquietude que é anestesiado com o desejo frenético de criar continuamente,
para que haja uma razão plausível e significativa do viver segundo um ideal. Os
dias passam, a vida também, e, com ela, as muitas histórias com gente dentro.
A vida é fascinante porque tem
tanto de belo para usufruir. Basta, por vezes, tão pouco para preencher e alegrar,
e, se eu soubesse como fazer para viver mergulhado no encantatório dos prazeres
tudo seria bem diferente, paradoxalmente o que eu pinto hoje, e de que gosto tanto, não existiria, porque a arte é a
expressão da verdade sentida.
E vos deixo com as palavras do
escritor, poeta, dramaturgo e ensaísta irlandês do século XIX Oscar
Wilde que um dia disse:
“As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os
outros.”
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