sábado, 21 de setembro de 2013

Três ou quatro














João Alfaro

“Rati”, 2013

Pintura sobre tela, 80x80 cm

 

 

 

 

São só três ou quatro: os amigos-amigos; os momentos únicos; as festas felizes; as viagens inesquecíveis; as saudáveis loucuras. Do tanto se reduz a tão pouco. Todos os dias as mil e muitas tarefas rotineiras preenchem o tempo, e, incapacitam os desejos maiores. Do muito expectável apenas se memorizam, pela singularidade, poucos eventos e escassas parcerias dos afetos. De quando em vez, em situações ímpares – pelas melhores razões ou não – os amigos surgem em catadupa e a hecatombe dos acontecimentos sobressai da vulgaridade. Os dias se tornam, no imediato, indefinidos. Depois volta tudo ao normal. Ou quase. Feitas as contas de uma vida de encontros e desencontros, quando um homem se põe a pensar, restam, apenas e só, três ou quatro referências que nos consolam e nos identificam. Três ou quatro. Somente. E não mais.

 

 

 

De uma vida de trabalho elevam-se pouquíssimas obras na produção de qualquer artista, embora, todas elas, ao serem concebidas partem sempre do propósito da originalidade e da grandeza que se pretende. Depois, porque o engenho e a arte raramente combinam, a menoridade das peças é a norma. Só ficam para memória futura três ou quatro obras. E nada mais.

 

 

“Rati” a deusa do erótico, segundo a mitologia hindu, procura ser uma pintura onde a representação da fantasia e do desejo se combinam num jogo de procuras, neste meu caminho em busca da arte que me envolve, como se o mundo fosse, quase e só, um mar de expressões cromáticas. E há tanto mar...

 

 

E vos deixo com as palavras de Émile Zola, in “Os Meus Ódios”:

 

“Uma obra de arte é um canto da criação visto através de um temperamento.”





 

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