“Encantamento”, 2013
Pintura sobre tela,
70x70 cm.
Não sei uma nota de música. Pouco
ou nada conheço da grande arte dos sons, mas sei do que gosto e do que detesto.
Perco-me todos os dias numa maré de vibrações musicais, mas jamais serei capaz
de memorizar um encadeamento tonal. Julgo reconhecer uma voz de qualidade e um
instrumentista de relevo. É uma questão de habituação. Talvez de sensibilidade,
atrevo-me a dizer. De tanto ouvir os maiores compositores e as vozes operáticas
construí um gosto que se afasta cada vez mais do que oiço por todo o lado. E,
por isso, me repugna o idolatrar de pessoas que não merecem reconhecimento e,
que são tratados como se fossem merecedores dos maiores elogios planetários.
Não estou errado. Sei que não estou. Tanta música “pimba”, tanto rock, tanta
ligeireza musical. Tudo é, apenas, um produto de consumo imediato destinado a
um público ostensivamente conduzido para o vazio, ou não fosse muito do que se
faz, um caminho de desencantados. A começar por mim.
Felizmente, com muito ou pouco conhecimento e
sensibilidade (mais ou menos agreste), todos, mas mesmo todos, gostam de viver
determinados momentos. O encantamento e o que ele envolve é um deles. Acreditar
na magia da fantasia ou na sublimação do instante vivido é condição do pleno
desejo, que é como quem diz: como é bom gostar de alguém, de alguma coisa, ou
de ver realizado um sonho. Com os sons da vida. Claro.
E vos deixo com as palavras de Carlo
Goldoni:
“Discutir gostos é tempo perdido;
não é belo o que é belo, mas aquilo que agrada.”
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