Sempre estive ausente. Nunca fui
alguém que estivesse fosse onde fosse. Mesmo fisicamente estando aqui ou ali, nunca saí do
mesmo lugar. Onde estou sempre é no meu ateliê. E só nele, talvez
porque trago, em mim, este desejo de querer transformar a minha existência num
outro enquadramento. Gosto muito da cosmologia, sendo um leigo na matéria,
confesso. E é por querer saber como é este universo e o porquê da nossa
existência, que só me sinto minimamente em paz comigo mesmo, quando procuro,
através da arte, dar um sentido ao que faço. Sei bem que o preço tem sido muito
elevado. Demasiado até. Perdi muito. Deixei fugir tanto, porque sempre soube
que só tinha um caminho: pintar.
Conscientemente sei onde estou e
o que sou agora e, porque penso deste modo, o meu andar errático pela paleta e
seus encantos vale o que vale, num tempo que escoa e que tem normas de difícil
aceitação perante os meus valores, mas pouco me interessa, enquanto tiver
capacidade para me deleitar com o que gosto tanto de fazer, os dias correm
depressa e me deixam sempre com uma vontade férrea de fazer mais e mais,
mesmo que o produto final seja tão distante dos palcos da ribalta. Sei que a
vida é bela e simples. Basta-me tão pouco para me prazentear, mesmo consciente que dos ausentes não reza a história
Recordo hoje as palavras do
grande poeta, dramaturgo, actor e compositor inglês William Shakespeare que
um dia escreveu:
“Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que
temos.”
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