João Alfaro
“Adonísia”, 2013
Pintura sobre tela de 120X100cm
Não tenho tempo. Nem hoje, nem
amanhã, nem nunca. Nunca tive tempo. O meu tempo nunca foi meu. Foi sempre dos
outros e das outras coisas. Levaram-me o tempo. O tempo meu. E, porque nunca
tive tempo, vi passar o tempo. O tempo de fazer o que gostaria de fazer, mas
não fiz, ou, pior ainda, não fui capaz de fazer. Muitos livros ficaram por ler,
muita pintura por realizar, muita música por ouvir, muito sonho por concretizar.
E tudo por causa do tempo, ou da falta dele. O tempo que não tenho e que
gostaria de ter: passei anos sem dormir o tempo que gostava; de não amar os
meus como adoraria no tempo certo; de não viajar pelos caminhos da paixão no
tempo como aspirava. E o tempo passou. Resta-me, agora, pouco. E o que tenho
agarro sofregamente, porque o que lá vai, lá vai. Foi o tempo que passou e não
volta mais. Resta-me recordar. E é tanto. Agora é na pintura que esgoto o tempo,
como se fosse a última esperança de dizer que ando num tempo, sem tempo. E é
tanto o tempo. Tanto, tanto. E não tenho tempo.
E vos deixo com as palavras de Jean
de La Bruyère que disse um dia:
“Aqueles que gastam mal o seu
tempo são os primeiros a queixar-se da sua brevidade.”
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