“Menina estás à janela
com o teu cabelo à lua
não me vou daqui embora
sem levar uma prenda tua
…”
Vitorino, excerto do poema “Menina estás à janela”
Quando estamos à janela pensamos nos que esperamos (quando esperamos); nos que nunca mais voltaremos a ver; nos que gostaríamos de ver; nos imprevistos da própria rua. Ora é um carro que passa; o vizinho do costume de regresso ao lar; um gato que atravessou a estrada e ia sendo atropelado; isto e aquilo. O pior é quando nada acontece por mais trivial que seja. Resta então olhar o tempo e apreciar a luz, a natureza e qualquer coisa que tenha uma pitada de interesse. È assim com muita gente. Todos os dias. Todos os dias.
Esta tela é um olhar entre dois espaços: um interior onde se caracteriza um modo de vida; outro é apenas um vislumbre em que a luz invade e não deixa perceber o que se passa no exterior. É este jogo que me seduz e que me leva a criar cenários através da pintura para canalizar pensamentos e desejos nos outros. História da Minha Pintura.
E vos deixo com um excerto de Fernando Pessoa:
“Do indivíduo temos de partir, ainda que seja para o abandonar.”