segunda-feira, 27 de junho de 2011

Menina estás à janela




Menina estás à janela
com o teu cabelo à lua
não me vou daqui embora
sem levar uma prenda tua
…”


Vitorino, excerto do poema “Menina estás à janela”

Quando estamos à janela pensamos nos que esperamos (quando esperamos); nos que nunca mais voltaremos a ver; nos que gostaríamos de ver; nos imprevistos da própria rua. Ora é um carro que passa; o vizinho do costume de regresso ao lar; um gato que atravessou a estrada e ia sendo atropelado; isto e aquilo. O pior é quando nada acontece por mais trivial que seja. Resta então olhar o tempo e apreciar a luz, a natureza e qualquer coisa que tenha uma pitada de interesse. È assim com muita gente. Todos os dias. Todos os dias.

Esta tela é um olhar entre dois espaços: um interior onde se caracteriza um modo de vida; outro é apenas um vislumbre em que a luz invade e não deixa perceber o que se passa no exterior. É este jogo que me seduz e que me leva a criar cenários através da pintura para canalizar pensamentos e desejos nos outros. História da Minha Pintura.


E vos deixo com um excerto de Fernando Pessoa:


“Do indivíduo temos de partir, ainda que seja para o abandonar.”

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nada de novo










Há quem viva na expectativa de um milagre; da vinda de um D. Sebastião; de um ideal. E há os outros: aqueles que desistiram de acreditar, e, estes são os eternos derrotados de hoje, de ontem e de amanhã, porque apenas querem que tudo fique igual, todos os dias. Eu não. Eu preciso de ter sonhos para continuar nesta labuta diária que é pintar o que vai dentro de mim, que é tão só a procura da serenidade. E mais nada. E mais nada.

Estas obras por muito desencontradas que sejam são – a meu ver – o retrato de um sentido e de um desejo de estar e sentir, aqui e agora, ontem como hoje e, talvez, para sempre. História da Minha Pintura.

E termino com as palavras de Agostinho da Silva, in “Parábola da Mulher de Loth “:

“O ideal da vida deve ser acima de tudo a serenidade.”

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Tempos de mudança



Nestes tempos de mudança, cujo caminho está mais cheio de incertezas que convicções, tudo gira numa constante angústia de deveres e valores sem sentido. O certo de ontem é a desordem de hoje. Todo o tempo é de mudança. Sempre foi. Aceitar este princípio é a grande questão, no entanto, o mundo pode e deve mudar, mas não a qualquer preço. Como acontece hoje muito. Infelizmente.

Esta tela é o retrato de um espaço onde tudo parece estar no sítio certo, bem longe das convulsões que gravitam por todo o lado e que quebram este silêncio e esta tranquilidade, que é o saborear do saber viver sem os desejos dos sete pecados mortais. É tão fácil estar longe estando tão perto e vice-versa. E porque é assim, a minha caminhada pictórica é um imenso mar de descrições sobre este meu processo de olhar, analisar, contemplar e viver. Aqui procurei transmitir, como sempre faço, o que me motiva e me leva a acreditar que vale a pena pintar, mesmo que tudo me passe ao lado. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Jean de La Fontaine:


“E cada um acredita, facilmente, no que teme e no que deseja.”

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O momento




Hoje não se fala de outra coisa. Hoje é a notícia do momento. Hoje vive-se na expectativa, uns com a esperança e outros com o desencanto. Amanhã será diferente. Depois é a normalidade que trará o olhar da verdade com a crueza factual. Até lá respira-se entre intervalos de dúvidas e de medos. Como sempre nas histórias há quem perca e quem se aproveite para ganhar muito. Depois de amanhã tudo ficará diferente. Obviamente. Agora é apenas um momento com pouca História, porque o importante mesmo nunca é o instante vivido, mas o que fica desse instante. Dos instantes maiores. E só desses.

A pintura é uma descrição de um tempo que, embora narrando a realidade, está sempre muito para além do instante. É mais História e menos curiosidade momentânea de episódios sem futuro; é mais a substância e menos o fait-divers. E porque assim é, é menos cativante para tantos, todavia, acaba por ser a expressão de um tempo e de um modo sem os adereços da superficialidade. Felizmente.


Estas pinturas são o relato que procura englobar um estar e sentir que se distancia de outros processos analíticos de viver e comentar, apenas porque o importante -para a arte - é a dimensão humana e não caprichos e dizeres sem conteúdo. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Montesquieu:

“Quanto menos os homens pensam, mais eles falam.”