quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Obra pública











Todos nós, mas mesmo todos, temos uma intervenção social. Ela é de reconhecido mérito ou não, no entanto, de pouca monta ou de grande alcance, todos participam e se relacionam directa ou remotamente. E, porque todos actuam bem ou mal, a sociedade é o reflexo desse milenar jogo entre o certo e o errado, o aceitável ou o condenável, que o tempo, sempre o tempo, clarificará e dirá de sua justiça. Sobre todos nós. Como sempre.

Estas fotos ilustram um painel em mosaico que fiz para um complexo desportivo. De acordo com as características e limitações do material, procurei representar um jogo de formas indicadoras de movimento que é, como se sabe, a expressão inerente à prática desportiva. As cores foram pensadas para se articularem com as tonalidades da restante arquitectura. A figuração identifica-se com as imagens que as novas tecnologias nos dão em certos contextos. História da Minha Pintura.

Hoje recordo as palavras de Henry Mencken, in “Preconceitos”:

“Nada pode sair do artista que não esteja no homem.”

E vos deixo com uma obra sublime de Handel ( um dos que teve uma intervenção social que o futuro reconheceu), que se tornou numa obra-prima, aqui com a voz de Cecilia Bartoli.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Disparates



Não sou nada. Nada sei. Sei contudo que há outros que nada sabem e falam como se tudo soubessem. São escutados e até admirados. Reconhecidos, vejam bem. E porque assim é, mais cedo ou mais tarde, vamos pagar a factura, porque é a tragédia que aí vem enquanto esperamos por milagres. O milagre do euromilhões.

Esta aguarela é de um feitiço que, como se sabe, vive do obscurantismo e da má-fé. Coisas dos homens. Agrada-me viajar por aí na construção de formas fora da realidade palpável. A natureza e a beleza dos gatos preenchem outros dos meus encantos. Depois pintar e saborear a luta das cores e dos tons é o que me apaixona sobremaneira na aguarela. Histórias da Minha Pintura.

Recordo hoje Johann Goethe:

“Nada mais assustador que a ignorância em acção.”


Mozart é o paraíso que encontrei aqui pelas minhas bandas. E vos deixo com a sonata “C K.545 2º andamento” do genial compositor austríaco, com Mitsuko Uchida ao piano.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Maldizer



Vale tudo. Vale mesmo tudo. Hoje temos a internet e por isso comunicamos como nunca. Felizmente. Agora é fácil fazer ouvir a nossa voz, mostrar os nossos projectos, as nossas ideias com sentido de responsabilidade e, no entanto, por paradoxo, é igualmente fácil deitar para o ar frases ocas, dislates, mentiras sem fim. É este o jogo do nosso tempo. É o eterno maldizer de uns, contra o querer, de outros, pela da verdade que julgam justa.

Esta aguarela é uma caricatura das muitas poses do estar com os outros. As formas exageradas e as cores também elas puramente aleatórias procuram criar uma composição que pela harmonia do todo seja apelativa. Cores variadas predominam numa mescla de tons que nasceram das muitas misturas e procuras que faço em muitos rascunhos. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Aristóteles:

“Que vantagem têm os mentirosos? A de não serem acreditados quando dizem a verdade.”

E vos deixo com as cantigas de escárnio e maldizer, aqui com Miro Casabella e “Olha meu irmão”.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Castelo de fadas



As histórias da carochinha continuam eternamente. Primeiramente são relatadas às crianças e depois em adultos gostamos de acreditar nos sonhos, nos milagres, na fantasia. Revistas cor-de-rosa; histórias de sucesso (ocultando as patifarias); políticas do faz de conta; mentiras. Tudo, tudo serve para continuar na ilusão dos castelos de fadas, com as belas princesas vivendo para sempre em paradisíacos recantos, com os príncipes encantados. É este o nosso mundo. O mundo de hoje para quem quer continuar a esconder a cabeça na areia como a avestruz. Coisas dos homens. De alguns deles.

Esta aguarela é um viajar pelo sonho, pelo milagre, pela fantasia. Porque a arte é um campo sem limites gosto, sempre que desenho, de construir cenários fantasiosos que, conjugados com a arbitrariedade das cores, originam obras que são e serão sempre fugas da realidade. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Cesare Cantú, in Attenzione”:

“O oposto da mentira não é a verdade.”

E vos deixo hoje com a fantasia que Mozart nos contemplou na ópera “ A flauta mágica”.

domingo, 3 de janeiro de 2010

A aldeia global



Como o mundo é pequeno. Tudo se sabe. Qualquer um de nós é uma figura planetária de um instante para o outro. É a tecnologia que nos aproxima para o melhor e para o pior. Como sempre. E porque hoje estamos todos em rede a mais pequena e recôndita povoação está tão perto de tudo. A aldeia é hoje o mundo inteiro. Todos se conhecem, todos comunicam, todos partilham interesses e invejas. E já não há sítios isolados e perdidos. Nenhum mesmo. Agora vivemos todos, mas mesmo todos, na aldeia global que é, como quem diz, perto e longe de tudo.

Esta pintura em tela é o retrato de uma aldeia igual a tantas outras caracterizada pelo casario e natureza circundante. O silêncio e a solidão são hoje marca das nossas despidas povoações que vão morrendo e que, aqui, procurei, com as “minhas” cores e com as formas inerentes, descrever o que vejo da realidade pintando e desenhando um pouco dos sabores rurais da minha infância. História da Minha Pintura.

Recordo hoje as palavras de Peter Ustinov:

“Comunicação é a arte de ser entendido.”

E vos deixo com a música de Lopes Graça que tanto explorou a musicalidade folclórica percorrendo os campos e as aldeias deste país.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Submissão



Submissão é acatar. Acatar é aceitar; é não dizer o que nos vai na alma; é não chamar os bois pelos nomes; é ter medo da verdade; é aceitar o fundamentalismo sem coragem para dizer Não; é perder. E não podemos perder a nossa dignidade, nem a nossa cultura,nem os nossos valores, porque de derrota em derrota , de submissão em submissão o nosso destino fica traçado. E não queremos voltar atrás no tempo, porque o tempo nunca volta para trás. Nunca.

Esta pintura em tela é um daqueles idílicos lugares que apenas existem na nossa imaginação. Felizmente que a arte permite deambular ao sabor do pensamento sem receios de submissão. Aqui procurei construir um cenário do maravilhoso numa perspectiva distorcida e tudo aconteceu após ter visualizado espelhos disformes. A arte e as experiências da vida são uma constante no meu trabalho. História da Minha Pintura.

Hoje recordo uma frase de Sófocles:
“Escravo do corpo, livre do espírito.”

E vos deixo com a música de Vivaldi e a voz de Jaroussky cantando “Sol da te” da ária “Orlando furioso”.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ano Novo






O ano que hoje começa é mais um na esperança ou na resignação. Tenho memória e, porque tenho memória, não me esqueço do que não quero esquecer. Já vi tanto. Já ouvi tanto que não me esqueço. Não posso esquecer. Podem prometer mundos e fundos. Podem dizer e fazer isto e aquilo, mas porque tenho memória, já não acredito. Sei é que os dias continuam indiferentes ao pensar dos homens. Para o ano há mais festas, se festas houver. Agora é tempo de arregaçar as mangas e lutar de novo, para que a resignação dê lugar à esperança.



Este desenho é um dos muitos que em tempos idos fiz um pouco por todo o lado. Sentado enquanto viajava de comboio, ou enquanto esperava numa qualquer sala, ou no café para vencer o tempo das muitas esperas. O método era simples: uma só caneta e de um impulso fazia estas deformadas figuras. Era o gosto pelo artesanato de Barcelos que me inspirava nesta análise crítica da nossa postura. Cada traço nascia sem grandes preocupações sobre proporções ou parecenças. Afinal, o que busco na pintura é prazer e só prazer, apesar do sofrimento que é produzir o mais pequeno trabalho pictórico. História da Minha Pintura.


Recordo hoje as palavras de Jean La Fontaine:

“Pela forma como se trabalha se avalia o artista.”

E porque não resisto começo o ano com a música de Bellini e a voz de Callas em “Norma”.

Bom ano para todos. Se forças tiver, este blog continuará.