terça-feira, 4 de julho de 2017

Ausente








Sempre estive ausente. Nunca fui alguém que estivesse fosse onde fosse. Mesmo fisicamente estando aqui ou ali, nunca saí do mesmo lugar. Onde estou sempre é no meu ateliê. E só nele, talvez porque trago, em mim, este desejo de querer transformar a minha existência num outro enquadramento. Gosto muito da cosmologia, sendo um leigo na matéria, confesso. E é por querer saber como é este universo e o porquê da nossa existência, que só me sinto minimamente em paz comigo mesmo, quando procuro, através da arte, dar um sentido ao que faço. Sei bem que o preço tem sido muito elevado. Demasiado até. Perdi muito. Deixei fugir tanto, porque sempre soube que só tinha um caminho: pintar.



Conscientemente sei onde estou e o que sou agora e, porque penso deste modo, o meu andar errático pela paleta e seus encantos vale o que vale, num tempo que escoa e que tem normas de difícil aceitação perante os meus valores, mas pouco me interessa, enquanto tiver capacidade para me deleitar com o que gosto tanto de fazer, os dias correm depressa e me deixam sempre com uma vontade férrea de fazer mais e mais, mesmo que o produto final seja tão distante dos palcos da ribalta. Sei que a vida é bela e simples. Basta-me tão pouco para me prazentear, mesmo consciente que dos ausentes não reza a história






Recordo hoje as palavras do grande poeta, dramaturgo, actor e compositor inglês William Shakespeare que um dia escreveu:



“Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos.”





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